O Professor - Capítulo 1

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O sol estava forte e o calor só aumentava ainda mais a minha apreensão. Quando abri o meu e-mail nesta manhã não consegui acreditar no que ele tinha me enviado. Reprovada. Isso era inacreditável e inaceitável para alguém como eu. Como poderia ser reprovada? Durante quatro longos anos me dediquei inteiramente a este curso apenas porque queria seguir um sonho. O meu sonho mais profundo, o mesmo que me fez abrir mão de tudo o que poderia viver se ele não existisse. Mas agora, o maldito do meu professor, estava pronto para me reprovar.
Estava sendo um semestre cansativo. Eu devia ter rejeitado a ideia de Rosalie de aceitá-lo como meu orientador. Fiz isso pela minha amiga, que morre de amores pelo tão desejado professor Cullen. Devia ter percebido que o fato dela querer um motivo para estar um pouco mais próxima dele não me ajudaria a alcançar o meu sonho. Agora estava vendo tudo ir por água abaixo.
Meu nome é Isabella Swan, sou estudante de letras e literatura e estudo na Universidade da Califórnia. Escolhi este curso porque sempre sonhei ser escritora. Aliás, eu mudei a minha vida para tornar realidade este desejo. Cometi dois erros graves: optar por escrever romances e escolher o professor Cullen como meu orientador para conclusão do curso. Ele não gostava de nada do que eu escrevia. Nada.
Quando recebi seu e-mail avisando que sentia muito, mas que não poderia aprovar o meu projeto, pensei que surtaria. Faltava pouco mais de um mês para terminar o meu curso e finalmente me formar e ele estava jogando um balde de gelo em minha cabeça.
Cansada e acuada, tomei a única decisão possível. Precisava contar a ele. Precisávamos ter uma conversa franca e justa. Quem sabe assim o senhor “ninguém é melhor do que eu” poderia descer um pouco do seu pedestal e me ajudar de verdade.
Mas no fundo Rose estava certa. O professor Cullen não era apenas um dos melhores professores da universidade. Ele era simplesmente proprietário de uma das melhores editoras dos Estados Unidos e, se eu conseguisse impressioná-lo era quase certeza que teria meu livro publicado por ela. O sonho de qualquer escritor.
Bem... Pelo visto eu não conseguiria publicar através deles. Aliás, pelo que ele tinha deixado claro, eu não conseguiria que ninguém publicasse. Eu era um fracasso total.
Digitei uma mensagem rápida e decidimos nos encontrar na praia. Sim, ele surfava. Peguei minha bolsa e, no horário que combinamos, eu já estava de pé na areia, aguardando por ele.
Claro que meu queixo caiu quando o vi saindo do mar. O Professor Cullen era um homem muito bonito e atraente, principalmente por seu ar de desinteresse. Seu jeito casual contrastava com a sua postura acadêmica e, definitivamente, ele ficava perfeito em seus ternos caros. Porém nada se igualava a ele saindo do mar. Seu corpo era completamente harmonioso. Ombros largos e corpo magro. Peitoral definido. Pelos que cobriam seu tórax descendo até... Sim, até lá. Suspirei.
Se ele soubesse que era nele que eu pensava quando escrevia. Se imaginasse que quando descrevia o que meu casal de personagens fazia, imaginava ele no papel principal. Se qualquer pessoa imaginasse uma coisa dessas eu seria ridicularizada.
Não que eu fosse apaixonada pelo professor Cullen, de forma alguma. Sei onde colocar o meu pé. Mas desde que ele começou a me orientar, com seu sorriso torto incrível, minha mente ficou povoada de imagens impróprias.
Que Rosalie nunca seja capaz de ler a minha mente.
O Professor Cullen, carregando a sua prancha e usando uma bermuda azul, caminhou lentamente em minha direção, sacudindo os cabelos, cortados no estilo militar, mas que cintilavam em contato com o sol. Uma visão perfeita do paraíso, ou do inferno.
– Pensei que estávamos em uma praia – disse ao se aproximar. Seu sorriso torto era quase como uma declaração de que pertencíamos a mundos diferentes. E realmente pertencíamos. Ele era do planeta “me inveje porque sou rico, lindo e extremamente sexy” enquanto eu era do planeta “me ignore, pois sou sem sal, sem graça e sem competência”.
– Jeans e tênis não combinam muito com o ambiente – continuou falando ao me analisar dos pés a cabeça.
– Não vim aqui para me divertir professor.
– Sei – ele fez cara de desagrado. – Veio por causa do meu e-mail. Precisamos mesmo conversar Isabella, mas não vamos fazer isso debaixo desse sol. Vamos ao Ton´s. Lá poderemos beber alguma coisa e conversar melhor.
Atravessamos a rua para chegar ao bar que ele tinha indicado. Naquele horário não havia muitos clientes. Além de nós dois, que ficamos em uma mesa separada, um grupo de surfistas conversava animadamente e bebia sucos coloridos. Assim que sentei senti que toda a minha preocupação pesava mais do que eu imaginava em meus ombros.
– Não posso ser reprovada – ele sorriu outra vez daquela forma desconcertante.
– Seria mesmo uma pena, mas infelizmente não posso aprovar um romance como o que você me apresentou.
– Por que não? O que tem de errado com o que escrevo? Sigo a mesma linha de muitas autoras do momento.
– Muitas autoras do momento não deveriam nem estar escrevendo – seus olhos cinza me encararam desafiadoramente. Suspirei buscando equilíbrio para mantermos aquela conversa em um tom conciliador.
– Professor, eu tenho me dedicado exclusivamente a este curso. Sou a melhor aluna de todos os tempos, é só verificar as minhas notas. Todos os professores acreditaram em mim até você chegar para dizer que o que escrevo é lixo – eu tentei, mas não consegui evitar a raiva em minha voz. Meus olhos queimavam querendo me derrubar em lágrimas contra as quais eu lutava veementemente.
– Não falei que o que escreve é lixo, apenas...
O garçom se aproximou para pegar o pedido. Olhei para ele, jovem demais, com cara de surfista, cabelos negros e olhos pequenos.
– O que vão querer?
– Um suco de tomate temperado, por favor! – Professor Cullen solicitou.
– E para a senhorita?
Olhei para os dois sentindo que meu corpo não suportaria mais tanta pressão num inicio de manhã tão desastroso.
– Uma dose de tequila, por favor! – ambos olharam para mim. Era mesmo uma forma de chamar atenção de todos solicitar uma bebida tão forte àquela hora da manhã. Professor Cullen endireitou os ombros olhando diretamente para mim enquanto o garçom se afastava de nós.
– É uma bebida muito forte. Esta acostumada a beber estas coisas?
– Acredite em mim, é exatamente o que preciso neste momento – minha cabeça latejava, minhas mãos suavam e minha boca estava seca. – Você ia dizendo... – Ele me avaliou com atenção e depois desistiu de tentar entender.
– Eu ia dizendo que seu texto não é um lixo. Sua escrita é correta, sua estória flui, mas falta algo. É como comer uma comida sem sal. Você sabe aquela que tem tudo para ser gostosa, mas não é.
– E o que falta? – Minha pergunta saiu exasperada. Não conseguia entender que tipo de sal era este que faltava em meus textos.
– Sentimentos. – Ele me encarou e outra vez o sorriso brotou em seus lábios me deixando desconfortável.
– Sentimentos?
– Isso.
Nos encaramos aguardando pelo que viria em seguida. Contudo nada aconteceu. Nem ele nem eu rompíamos o muro que tinha crescido a nossa frente. O garçom chegou com nossas bebidas e as colocou sobre a mesa. Meu professor segurou o seu suco sem bebê-lo e me observou cauteloso.
– Veja só Isabella. Você está escrevendo um romance para adultos, certo?
– Concordei com a cabeça. – A trama toda está muito boa, mas quando você descreve os sentimentos deles fica muito vago. É meio como... – Ele coçou a cabeça e pareceu confuso. – Como se você não soubesse sobre o que está falando. Não existe profundidade. É uma visão muito superficial em relação à complexidade dos sentimentos deles. Principalmente quando precisa descrever as sensações.
Baixei a cabeça segurando o copo com força entre as mãos. Ele tinha razão. A quem eu queria enganar? Não era fácil escrever coisas como as que eu tentava escrever sem ter conhecimento de causa.
– Nem sei como lhe dizer isso... – Ele se curvou em minha direção falando confidencialmente. – Quando você descreve a forma como ele toca em sua namorada... Não sei... Não parece real. Eu não tocaria uma pessoa desta maneira. Acho que ninguém com a experiência que você descreve que ele tem, tocaria uma mulher assim. E como ela sente ao ser tocada... É muito distante do que acontece na realidade. Sei que não deveria dizer isso, mas, lendo o seu texto, principalmente estas partes, tenho a sensação que você não sabe do que está falando. É fantasioso demais e foge completamente da realidade.
Continuei calada. Chocada demais para dizer alguma coisa e constrangida demais para argumentar contra o que ele dizia.
– Isabella... – Ele pareceu hesitar. – Ninguém goza daquele jeito. Quer dizer... Ninguém que mereça ser escrito em um livro. Deve ser incrível, transformador, sensual, no entanto é... estranho. Desculpe. Não sei mais o que falar.
– Como assim estranho? – Ele me olhou nos olhos e a única coisa que identifiquei foi confiança demais. Professor Cullen era um homem que exalava confiança e se ele dizia que eu não sabia descrever um orgasmo, com certeza sabia muito mais do que eu sobre o que estávamos falando.
– Algum homem já fez você gozar desta forma? – Baixei a cabeça deixando meus cabelos esconderem meu rosto.
Minhas mãos suadas seguravam o copo completamente indecisas sobre o que fazer.
– Não – tomei a tequila de uma vez só e bati o copo na mesa sentindo o líquido queimar a minha garganta. Desta vez foi impossível segurar as lágrimas que desceram. O álcool foi uma grande ajuda.
– Não – ele repetiu. – Entendeu?
– Não.
Ele respirou profundamente e se remexeu na cadeira demonstrando desconforto. Se para ele estava sendo assim, imagine para mim.
– Você já teve algum orgasmo? – Sua voz saiu baixa. Levantei os olhos encontrando os dele.
– Não – ele passou as mãos pelos cabelos e soltou o ar.
– Nem sozinha?
– Não professor. Nunca tive uma merda de um orgasmo. Nem sozinha, nem acompanhada. Passei meus últimos quatro anos trabalhando no sonho da minha vida que é escrever um livro. Não qualquer livro, mas “o livro”. Larguei tudo o que podia para conseguir. Não. Nunca tive um namorado. Nunca fui tocada da forma como escrevo nem de nenhuma outra forma de cunho sexual. Sou virgem. Satisfeito?
Ele me encarou assustado com a minha reação. Seus olhos estavam arregalados me encarando e sua boca um pouco aberta como se tentasse encontrar algo para dizer. Entretanto continuou calado. Apenas me examinava, da mesma forma que se examina um extraterrestre. Sim. Era isso o que eu era. Que outra mulher na face da terra ainda era virgem aos 21 anos?
Sentindo o meu corpo inteiro tremer, segurei minha bolsa jogando-a contra o ombro e levantei com pressa. A bebida teve efeito instantâneo.
– Não se preocupe professor. Se é de experiência que o senhor precisa, vou providenciá-las. Mas não vou ser reprovada. Vou correr atrás de todas as experiências necessárias para entender o que me disse e vou me formar com honra, nem que para isso eu tenha que transar com o primeiro cara que aparecer na minha frente. – Me afastei da mesa percebendo que tanto os surfistas quanto o garçom estavam parados me olhando com a mesma cara assustada. Eu tinha dado um pequeno espetáculo. – Ou os primeiros caras – sorri para ele e saí em direção à rua. direção à rua.

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